sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

das esperas à toa

esperar é um verbo complicado. um ônibus, uma ligação, um sorriso, um filho, um oi despreocupado, um abraço forte de adeus, um último beijo perfeito – etc eterno. o senhor esperto que foi o houaiss dizia que esperar é um verbo transitivo direto, transitivo indireto & intransitivo. notem a conjunção: e. e não ou. sem alternativas. aditivas. acumulação.

espera-se sempre. qualquer coisa. a vida inteira. o tempo todo. agora.

eu espero mil coisas da vida. quero ter cinco filhos. um garoto só, porque a minha paciência com adolescentes do sexo masculino não dura mais do que um filho. espero ter uma boa carreira, saber lidar com os percalços. espero ficar rico, claro. socorro o trabalho. espero acordar às onze às segundas, ter uma babá pra cada filho. eu espero viagens que durem o tempo suficiente, que eu consiga visitar todos os lugares do lugar, quero parar de entrar no avião sabendo que eu deixei de ir lá (e lá era o lugar mais legal da cidade).

mas isso tudo eu espero da minha vida.

e, sério, todo mundo perdoa a vida sem reclamar. {tá, sempre tem as pessoas recalcadas, mas elas recebem esse adjetivo não por acaso.}

o problema, criaturas terrenas, são as pessoas. elas existem. estão aí ao nosso redor o tempo todo {talvez até principalmente quando a gente não quer que elas estejam}. e nós temos que conviver com elas. e amá-las. porque é bonito viver assim.

e é mesmo.

só que, voltando a ela, o verbo esperar está aí. pomposa como ela só. e a gente espera. mais além: a gente espera pra caralho. e elas {quase} nunca correspondem a nossa expectativa {aliás, a etimologia do verbo esperar está ligada à palavra expectativa, ainda no latim isso}. por quê?

não é possível que deus seja malcriado o suficiente para debochar da sua cara assim. é claro que ele não é. {ou ele é e a gente não sabe lidar com isso, mas não vem ao caso.} a questão é que O PIOR DE TODAS AS COISAS RUINS DO MUNDO é que a culpa é completamente sua.

você espera. a coisa não vem.

a culpa é da coisa? ah vai. você nem gritou por ela. esperou por esperar. por achar que tinha combinado sem dizer uma palavra. {olha, esse tipo de contrato não vale judicialmente.} e outra, francamente, a coisa pode nem existir. você nem se certificou de que ela existia mesmo antes de esperá-la. resolveu esperar porque seria lindo, ótimo, perfeito se ela existisse. concordo. concordamos {eu e a coisa}. mas, se ela não existe, não adianta nem gritar. o que não existe, não faz ninguém parar de esperar.

entende?

não saia por aí culpando os outros porque eles não corresponderam às suas expectativas. as expectativas são suas. e, se em nenhum momento o outro prometereu corresponder, a culpa é toda sua.

e, infelizmente, vocês vão ter que resolver isso sozinhos.

Um comentário:

Camila Akemi disse...

Adorei todas as suas palavras, escritas com uma sensibilidade linda...Parabéns.